quarta-feira, 6 de março de 2013


COMO O BRASIL PODE IMPEDIR QUE A G4S SEGURANÇA  FINANCIE E LUCRE COM A OCUPAÇÃO NA PALESTINA



29 novembro, quinta-feira, 2012 às 12:05




Oficina mostrou como a maior empresa de segurança do mundo se beneficia dos contratos com o Brasil para ajudar ocupação israelense
Pensemos no Estado Palestino e na sua ocupação por Israel. Mas não pensemos em bombas lançados por aviões israelenses, em crianças mortas e em prédios em chamas por um momento. A proposta é raciocinar em termos de um poder quase imperceptível, mas fundamental para sustentar a rotina da ocupação e das atrocidades cometidas por Israel na Palestina. Pensemos em um negócio que fatura 7,5 bilhões de libras esterlinas (R$ 26,3 bilhões) por ano e que se alastra pelo mundo.
Pouca gente conhece a G4S. Mas suas atividades de segurança na Faixa de Gaza e na Cisjordânia são fundamentais para manter com Israel o controle sobre o povo palestino. A G4S é a maior empresa de segurança do mundo e a quarta maior empregadora. Se, na Palestina, atua na proteção de assentamentos ilegais israelenses, em pontos de controle e na segurança de indústrias, bancos e supermercados, no Brasil ela emerge como fornecedora de soluções no fornecimento de equipamentos e de segurança e de comunicação em banda larga.
Por cerca de duas horas, três painelistas que participam de uma campanha mundial de BDS (sigla para boicote, desinvestimento e sanção) contra a ampliação dos tentáculos da G4S no mundo mostraram como enfrentar a hegemonia da ideologia de segurança global. No auditório da Casa dos Bancários, no Centro de Porto Alegre, a Oficina “Por que Barrar a G4S no Brasil?” elucidou a importância de impedir que essa empresa lucre com a Copa do Mundo e as Olimpíadas nos próximos anos. A programação faz parte do FSM Palestina Livre.
Como saber se a G4S opera e onde opera no Brasil? Não há muita complexidade. Basta entrar com o nome desta empresa em um serviço de busca on line para ver que bancos como a Caixa Federal, o Banrisul e o Banco do Nordeste utilizam serviços de alarmes monitorados desta empresa. Não é difícil saber que o BNDES abre linhas de créditos para empresas brasileiras comprarem os serviços da G4S. Também que as câmeras colocadas na BR 116, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, e que a Free-Way, BR 290, que leva ao Litoral Norte, são obra dessa empresa que sustenta a violência de Israel na Palestina.
Também é fácil determinar que a Petrobras tem contratado serviços e comprado equipamentos de segurança desta empresa. O mediador do debate, o bancário e diretor do Sindicatos dos Bancários de Porto Alegre e Região, Francisco Magalhães, disse ter obtido esses dados com simples pedidos de informações, alegados sob a Lei da Transparência.
“Bastou entrar no site desta empresa para saber que a nossa oficina deveria ter outro nome. Não temos mais que trabalhar com campanha de BDS para barrar a chegada da G4S no Brasil. Mas contra-atacar para manda-la embora daqui. Esta empresa tem as mãos sujas de sangue palestino”, disse Magalhães.
A proposta é utilizar a força das Campanhas Salariais dos Bancários para combater a G4S. Para Magalhães, a pauta de reivindicações deve, a partir de 2013, ter uma cláusula que estabeleça como crítica para o fechamento do acordo o comprometimento de todos os bancos brasileiros de não contratar ou de cancelar os contratos com a G4S.
 A história
A força da britânica G4S na Europa e nos Estados Unidos se deve a uma disputa vitoriosa em relação a um discurso de guerra. Assim, a ocupação passa também a fazer sentido. A G4S administra presídios, em Israel, onde casos de torturas contra crianças, mulheres e adultos se multiplicam. Onde cerca de 50% da população masculina palestina já deu entrada e onde está o dinheiro da disseminação do medo. E não por acaso. Estadunidenses e britânicos são aliados de Israel no fornecimento de ogivas nucleares, dinheiro e tecnologia bélica no Oriente Médio.
Formado em Economia e professor da Al Quds University, em Jerusalém, Ibrahim Shikaki, morador de Ramallah, na Cisjordânia, conta que um relatório em fase de finalização aponta não só os tentáculos, o faturamento e o tamanho da G4S, mas também sua história. Ela nasce da fusão de duas outras gigantes o setor de segurança no mundo. A partir de 2002, atua de modo a ocupar territórios em países conflagrados por alguma guerra ou ocupados. Então, compra empresas menores nestes países e passa a oferecer soluções em segurança beneficiada pelo medo disseminado de assaltos em países como o Brasil e de homens bomba, como no caso de Israel.
A outra faceta da atuação é legal. Sendo o direito internacional lento, não pode dar conta de julgar as aberrações legais que Israel comete em nome da ocupação do Estado Palestino. Por exemplo, um palestino, diz o artigo 76 da Declaração Internacional dos Direitos Humanos, só pode ser julgado ou preso em seu país. As prisões “da G4S” ficam em Israel.
“A G4S está envolvida em atividades que ferem o direito internacional. O direito internacional não foi capaz de colocar mãos firmes para regular as atividades destas empresas. Se os poderes não foram capazes de botar as mãos nestas empresas, como podemos? Este é o papel que os movimentos sociais devem cumprir. Boicotar e impedir que elas façam negócios em seus territórios”, explicou Shikaki.
 Organizando a campanha
Mas o que o Brasil tem a ver com tudo isso? É que indiretamente o Brasil tem ajudado a G4S a garantir que palestinos percam suas terras, sejam constrangidos e torturados em presídios e não tenham um Estado reconhecido internacionalmente. E isso ocorre por meio de contratos fechados com a G4S. Um dos mais interessantes para a empresa de segurança britânica é o de expansão da rede de fibra ótica na Amazônia. Este contrato federal vai render R$ 135 milhões para G4S.
Mas qual o efeito disso? Michael Deias, ativista do Comitê Nacional de BDS da Palestina, diz que, desde abril de 2010, quando presos palestinos organizaram uma greve de fome em massa, a campanha começou a ganhar corpo. Por toda a Europa, sobretudo no Reino Unido, notícias das atrocidades com presos palestinos, nos presídios administrados pela G4S começaram a chegar. Notícias e provas, por sinal. Contratos públicos foram cancelados na Bélgica. A campanha conseguiu até mesmo um compromisso da União Europeia de não renovar ou contratar novamente esta emrpesa.
 O resultado disso? Foi um comunicado da própria G4S, dando levemente a entender que poderia deixar a Palestina. “Eles fazem o trabalho sujo do governo israelense. Mas podem abrir mão desses contratos porque compensam as perdas com novos negócios no Brasil e na Índia”, diz Michael.
 Propostas de campanha
O Brasil virou importante alvo da campanha por se tratar de um igualmente alvo das estratégias de lucro da GS4 até 2016. Por razões óbvias, a G4S está interessada em fornecer soluções materiais, assim como tecnologia de segurança para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas do Rio em 2016. Mais uma vez, não há acaso nenhum nisso. Foi essa empresa que fez a segurança dos Jogos Olímpicos de Londres, onde obrigou trabalhadores a cumprirem jornadas ininterruptas de 16 horas de trabalho.
“A maior empresa de segurança do mundo está tendo prejuízos na Europa e nos Estados Unidos. Mas está lucrando muito no Brasil e na Índia. O Brasil tem hoje muito poder econômico e, com isso, aumenta muito a sua responsabilidade em relação a processos de financiamento indireto de militarização de territórios, como é o caso da Palestina”, diz a canadense que vive em Ramallah, na Cisjordânia há oito anos, Maren Mantovani, relações internacionais do Stop The Wall e secretária do Comitê Nacional pelo BDS.
Por: Clóvis Victória

http://cutrs.org.br/como-o-brasil-pode-impedir-que-a-g4s-financie-e-lucre-com-a-ocupacao-na-palestina/

Nenhum comentário:

Postar um comentário